Sempre aprendi e ensinei que o ciclo de auditoria não termina no relatório, mas na resolução dos problemas apontados pelas auditorias.
Apesar desse mantra ser repetido comumente no mundo da auditoria, uma das maiores dificuldades que observei nos meus anos supervisionando auditorias é o dos trabalhos de auditoria terem suas recomendações executadas e consequentemente, os problemas endereçados por elas resolvidos.
Nem vou discutir a possível generosidade dos trabalhos de follow up dos trabalhos que, por vezes, distorcem a real implementação das recomendações.
Tendo essa constatação em mente, por que existe essa dificuldade, se os auditores geralmente são profissionais muito capacitados e a maior parte dos gestores gostaria de resolver seus problemas e melhorar seus resultados?
Em primeiro lugar há uma questão de mindset do auditor, que geralmente é muito preparado para detectar problemas, falhas, irregularidades. Todo o framework conceitual e ferramental de auditoria reforça essa competência.
Já a busca pelas causas desses problemas não é tão fluida assim. Não há uma ênfase tão grande assim nos treinamentos e no desenvolvimento dessa orientação. Se o auditor não consegue determinar causas fica difícil construir soluções, uma vez que essas soluções devem atacar as causas dos problemas constatados.
E de fato, a coisa se complica de vez quando o auditor tem de sugerir medidas que corrijam os problemas. Além da questão da determinação das causas, novamente nos deparamos com uma questão de mindset: a capacidade criativa de auditores não é exercitada devidamente na sua formação. Se não há um benchmark para copiar e sugerir, muitas vezes o auditor “patina” pois não consegue sugerir algo criativo que solucione o problema.
Aliás, diga-se de passagem que quando se imagina o perfil de um auditor a criatividade não é algo que listamos entre as “Top 10” características.
Ainda que o auditor não seja criativo (pode não ser de fato o seu perfil), ele(a) deveria ser treinado em técnicas de facilitação que conduzissem a própria equipe auditada a gerar essas soluções criativas.
Nesse ponto nos deparamos ainda com outra lacuna de conhecimento, habilidades e atitudes dos auditores que é a de utilização de persuasão nos trabalhos de auditoria. Importante observar que persuasão não é manipulação, sendo que a diferença é que a primeira é ética e a segunda não.
Sem uma condução persuasiva já desde o início da auditoria fica difícil engajar o auditado em dinâmicas que gerem soluções criativas. Sem que o auditado esteja convencido de que as soluções sugeridas pela auditoria sejam positivas para ele e para a organização, ele não se esforçará de verdade para implementá-las.
Enfim, para ter auditorias realmente efetivas é preciso aumentar persuasão e a qualidade das recomendações resultantes dos trabalhos para que elas sejam realmente implementadas e resolvam, de fato, os problemas apontados.
Comments